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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Algumas Poesias de Camilo Castelo Branco!

A outra metade

Quando este corpo meu esfacelado
Baixar á leiva húmida da cova,
Hão de os jornais carpir a infausta nova,
Taxando-me de sábio consumado.

Estalará na imprensa enorme brado,
Pedindo a ressurgência d’um Canova
Que a morta face em mármore renova
Para insculpir meu busto laureado.

E algum dos imbecis necrologistas,
Com soluçantes vozes de saudade,
Dirá em ricas frases nunca vistas:

“Esse génio imortal, rei dos artistas,
No céu pede ao Senhor que a outra metade
Reparta por vocês, ó jornalistas!”




Comédia humana

Literatos! Chorai-me, que eu sou digno
Da vossa gemebunda e velha táctica!
Se acaso tendes crimes em gramática,
Farei que vos perdoe o Deus benigno.

Demais conheço a prosa inflada, enfática,
Com que chorais os mortos; e o maligno
Desafecto aos que vivem… Não me indigno…
Sei o que sois em teoria e em prática.

Quando o avô desta vã literatura
Garret, era levado á sepultura,
Viu-se a imprensa verter prantos sem fim…

Pois seis dos literatos mais magoados,
Saíram, nessa noite embriagados,
Da crapulosa tasca do Penim.




Tomás Ribeiro


Ao cantor de D. Jaime era ousadia
Dedicar uns insípidos sonetos,
Bem pálidos, mesquinhos esbocetos
Dos Ridículos grandes d’hoje em dia.

A ti que ileso passas nesta orgia,
Modesto, honrado e amado, que amuletos
Te salvam destes pântanos infectos
Em que chafurda a esquálida anarquia?

Tantas vezes Governo!... E não tens pejo
De ser pobre, ó Tomás?... Isto que vejo
Me inspira o vaticínio que registro:

Dirão de ti as porvindouras eras:
“Ministro pobre em Portugal! Quimeras!...
Ou viveu farto, ou nunca foi ministro!”

Tomás Ribeiro