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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Poesia da Camilo Castelo Branco

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu em Lisboa em 16 de março de 1825 em São Miguel de Saide. Em 1885 é lhe concedido o título de visconde de Correia Botelho. Primeiro escritor de língua portuguesa a viver exclusivamente dos seus escritos literários; romancista português, cronista, crítico, dramaturgo, poeta, tradutor e historiador, Castelo Branco teve uma vida atribulada, passional e impulsiva o que lhe serviu de inspiração para escrever suas novelas.

A progressiva e crescente cegueira (causada pela sífilis), impede Camilo de ler e de trabalhar capazmente, onde mergulha num enorme desespero. Depois da consulta a um oftamologista que lhe confirmara a gravidade do seu estado, em desespero, o autor comete suicídio.

O autor supracitado escreveu entre 1851 e 1890 mais de duzentas e sessenta obras, sendo aproximadamente seis livros por ano, deixando grandes referências na Literatura Portuguesa, dentre os quais podemos citar: A Queda de um Anjo (1866), Amor de Perdição (1862), As Três irmãs (1862), dentre outros.

Na escrita de Camilo Castelo Branco (1825-1890), encontra-se uma linguagem portuguesa legítima, repleta de ironias e sarcasmos violentos. Pode-se notar algumas dessas características no livro de poemas “Nas Trevas”, escrito em 1890, último livro do escrito publicado em vida, haja vista que o mesmo cometeu suicídio neste mesmo ano. O título do livro se dá pela quase cegueira do escritor no fim de sua vida.

Contudo, a critica literária defende que a reputação literária de Castelo Branco não decorria da sua produção poética, devido à diferença de qualidade entre as poesias e os textos históricos, jornalísticos e genealógicos do mesmo.

No livro “Nas Trevas”, o escritor expõe, através de poesias, em forma de soneto, sua angústia e sentimento pela vida, devido ao momento pelo qual estava passando, utilizando uma escrita humorística.

Dentre as poesias do livro citado pode-se utilizar como exemplo “A outra metade”, onde, o autor, manifesta sua aflição. O eu-lírico deixa transparecer a importância que o mesmo tinha ao prenunciar sua morte nos jornais. Isso fica claro no primeiro quarteto do soneto:


Quando este corpo meu esfacelado
Baixar á leiva húmida da cova,
Hão de os jornais carpir a infausta nova,
Taxando-me de sábio consumado.


Nota-se que o eu-poético faz um lamento por sua morte, evidenciando sentimentos de angústias e solidão, que estão sempre presentes em sua obra, mostando a importância que tem para os jornais ao relatar sobre sua morte, que para ele é um destino certo de uma vida improvável.

Essa percepção extraordinária se dá devido a sua grande capacidade de inteligência, imaginação e sofrimento causado por uma doença que o impede de continuar seus sonhos. Utilizando uma linguagem peculiar, Camilo expressa sua sensibilidade levando os leitores sentir o que ele sentiu: um sofrimento intenso, que se deixa transparecer no poema em questão. No decorrer do poema essa afirmação se torna mais clara.

Estalará na imprensa enorme brado,
Pedindo a ressurgência d’um Canova
Que a morta face em mármore renova
Para insculpir meu busto laureado.

Nas últimas estrofes o eu-lírico deixa transparecer a significância que tem e a falta que fará sua permanência no mundo, enquanto escritor, fazendo um contraste entre o sofrimento vivenciado sentido por ele e a nostalgia dos jornalistas ao reportarem tal notícia.

E algum dos imbecis necrologistas,
Com soluçantes vozes de saudade,
Dirá em ricas frases nunca vistas:

 “Esse gênio imortal, rei dos artistas,
No céu pede ao Senhor que a outra metade
Reparta por vocês, ó jornalistas!”

Desta forma, pode-se constatar a maneira como o escritor trata o momento pelo qual estava passando, ao fazer uso da ironia para abordar um assunto tão angustiante. 

A ironia  seria  a afirmação de um indivíduo que reconhece a natureza intersubjetiva de sua individualidade,  dessa forma, ela serve à literatura, quando essa busca um leitor que não seja passivo, atento/participante, capaz de perceber que a linguagem não tem significados imóvel e que o texto  pode trazer artificios e jogos de enganos dos quais deverá participar. Isso porque o escritor escreve para ser lido, mesmo que seja por ele mesmo.
O que podemos concluir, [...] é que a ironia não é apenas uma questão de vocabulári: não se resume a uma inversão de sentido de palavras, mais implica também atitudes ou pensamentos, dependendo da sua compreensão de o receptor perceber que as palavras não têm um sentido fixo e único, mais pode variar conforme o contexto[...] São testadas a atenção e a capacidade de percepção dos interlocutores envolvidos em disputas e jogos de engano intradiegéticos. (DUARTE, 2006. p.22) .

O emissor (Para a autora existem na comunicação irônica três elementos: emissor, receptor e mensagem), pela ótica de Duarte,  tem uma habilidade eficiente, que é o ato de manipular, para persuadir o receptor, isto é, uma tática para exercer influências no  jogo de palavras, “enfim é a ambiguidade da mensagem que possibilita o seu potencial, entendimento divergente” (DUARTE, 2006. p.29).

Percebe-se que mesmo não sendo tão reconhecido através de seus poemas como em suas demais obras, Castelo Branco faz uso de artificios que peritem afirmar a qualidade de sua escrita poética.

Camilo Castelo Branco, expõe através de suas poesias fatos que ele estava vivenciando e leva o leitor a refletir, quando utiliza momentos de aflição para se exaltar, ao anunciar através da poesia que seria lembrado pelos jornais. Dessa forma, o escritor faz o leitor ter um novo olhar para os sofrimentos humano.

O ofício do poeta não é descrever coisas acontecida ou ocorrência de fatos. Mas isso quando acontece, é segundo as leis da verossimilhança e da necessidade. [...] A diferença entre historiador e poeta é a de que o primeiro descreve fatos acontecidos e o segundo, fatos que pode acontecer. Por isso que a poesia é mais elevada e filosófica que a história; a poesia tende mais a representar o universal; a história, o particular. A idéia de universal é ter um indivíduo de determinada natureza, em correspondência às leis da verossimilhança e da necessidade. (ARISTÓTELES apud PEREIRA; NETO; PAIVA,2008 :33)

Por isso, firma-se um ponto de vista entre o autor e sua obra que se assemelha a relidade. Percebe-se que Aristóteles não acredita que há uma realidade fisíca, mais sim, ficçional, ele não ver  a arte apenas como uma imitação do mundo real mas, como uma representação do mundo real e do mundo imaginário.

Em suma, o enredo da poesia do livro “Nas Trevas”, envolve sentimentos, dor, solidão, onde os leitores vivenciam através da imaginação melancolia, amargura e morte.




REFERÊNCIA 

DUARTE, Lélia Parreira. Ironia e Humor na Literatura. Belo Horizonte: PUC Minas; São Paulo: Alameda 2006.


 

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